A Parvovirose é uma das
causas mais comuns de diarreias infecciosas em cães. O Parvovírus Canino (CPV)
possui características que lhe conferem grande resistência ambiental ao passo
que permitem uma alta taxa de infectividade1. Isso permite explicar
os índices de prevalência que alcançam 100% de morbidade e 91% de mortalidade
em filhotes ao redor do mundo2.
O CPV é visto como uma
grande ameaça especialmente para os filhotes tanto pela gravidade da doença
como pelo fator de exposição1. Enquanto que a dose necessária para
infectar um animal não vacinado é, em média, de 1000 partículas virais, um cão
doente pode eliminar até 1,25milhão de unidades virais por grama de fezes
durante um período de até 2 semanas após a exposição2. Desta forma,
a vacinação assume o papel de um dos principais e mais eficazes meios de
prevenção e controle da parvovirose ao quebrar o elo entre animais susceptíveis
e infectados.
Fonte: http://trupeanimal.com/tag/vacina/
Paradoxalmente, o maior
obstáculo para o sucesso da imunização reside no mesmo mecanismo que protege os
filhotes nas primeiras semanas de vida: os anticorpos maternos3.
Diversos fatores também podem comprometer a resposta à vacinação, como variação
genética1,2,3 e o uso de bacterinas de leptospira nas primeiras
doses de primovacinação, dentre outros4.
Anticorpos maternos
Os anticorpos maternos
compõem a imunidade passiva transmitida pela mãe aos filhotes. A princípio, o
tipo de placentação dos cães impede que grandes quantidades sejam passadas
ainda na vida in útero, resultando em
2 a 18% dos títulos totais alcançados na vida pós natal5. Assim, a
grande fonte de imunidade passiva repousa no fornecimento do colostro nas
primeiras 24 horas de vida.
Os títulos de anticorpos
maternos diminuem gradativamente durante as semanas subsequentes e, com eles, a
proteção contra diversas doenças. A presença desses anticorpos inibe também a
síntese de IgG (imunoglobulina – célula de defesa). A janela de vulnerabilidade
compreende este período em que os títulos se encontram abaixo de um limiar
considerado protetor, mas permanecem acima daquele onde ainda há interferência na
resposta imune. Isto é, o animal, apesar de susceptível à doença, é incapaz de
montar uma resposta eficaz5.
A maior parte dos indivíduos
possuem títulos abaixo do limiar de interferência às 12 semanas de vida.
Contudo, até 10% dos animais podem não responder, mesmo após receberem de 2 a 3
doses nos 3 primeiros meses, idade na qual usualmente se finaliza a
primovacinação2.
Este percentual pode ser ainda
maior em áreas endêmicas ou com ampla cobertura vacinal, cuja a população, em
especial as fêmeas, apresenta altos títulos de anticorpos que, por sua vez, são
passados aos filhotes aumentando a janela de vulnerabilidade.
Por
esta razão, os guias de vacinação mais recentes3,6,7 passaram a
recomendar que a ultima dose do protocolo de primovacinação seja administrada
entre a 14ª e 16ª semana de idade do filhote. Desta forma, garante-se que 98%
dos animais vacinados possuam títulos abaixo do limiar de interferência,
portanto, aptos a responder3.
Fonte: http://www.portalfilhotes.com.br/reproducao-cio-ciclo-sexual-da-cadela/
Influência genética
Um animal vacinado não pode
ser considerado imunizado. Apesar de as vacinas modernas apresentarem altos
níveis de eficácia, nem todos os pacientes são capazes de montar uma resposta
satisfatória e protetora por fatores genéticos3. Esses indivíduos
são denominados são respondedores.
A pressão de seleção
exercida pelo homem na espécie canina ao longo do tempo também interfere na frequência
de não respondedores. A grande diversidade fenotípica observada também é
refletida na função imune à medica que se observa ampla variação do perfil de
resposta quando se comparam diversas raças7.
Se por um lado a proporção
de não respondedores para o CPV numa população homogênea é estimada em 0,1%,
por outro, algumas raças podem ter entre 1 e 5% do total de cães incapazes de
responder à vacinação5.
No caso destes animais, a
proteção não é conferida pela vacinação individual, mas por uma alta cobertura
vacinal. Neste cenário, os cães imunes atuam como uma barreira epidemiológica
entre indivíduos infectados e susceptíveis.
Interferência de Antígenos
Outro ponto importante e que
pode causar uma falha vacinal é a interação entre antígenos. O uso de
bacterinas de Leptospira nas primeiras doses da primovacinação pode resultar em
diminuição da resposta imune às frações virais, dentre elas, o CPV4.
Por isso, recomenda-se que sua administração seja realizada nas duas ultimas
doses do protocolo inicial dos filhotes.
Conclusão
A imunização de filhotes
contra a parvovirose canina permanece um assunto de grande importância no
universo veterinário. No entanto, o sucesso da vacinação repousa em superar os
diversos obstáculos envolvidos.
Referências:
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Fonte: Merial WebVet