quarta-feira, 23 de novembro de 2016

ACARÍASE CUTÂNEA EM PEQUENOS ANIMAIS


Por Karel Simmelink, M.V.
Dr Karel e EquipeVet

Um grupo de moléstias da pele provocadas por parasitas pertencentes ao gênero Sarcoptes Demodex. São as sarnas.

Sarcoptes scabiei var.canis – (Popularmente conhecida como Sarna Vermelha) Processo muito pruriginoso de efeito contínuo, afeta outros animais quando em contato, como também o homem. Forma crostas, deixando a pele hiperêmica, espessada, enrugada e ressecada. Lesões quase sempre se formam ao redor dos olhos, das orelhas e do focinho, para daí espalhar pelo pescoço, abdômen e extremidades. Estes parasitas habitam nos túneis deixados pela abrasão da coceira, onde se reproduzem. Ao microscópio (figura1) observa-se um corpo arredondado, com quatro pares de patas (as larvas apresentam três pares de patas).
  

Figura 1: Sarcoptes scabiei var. canis, sob microscopia óptica.
Fonte: Arquivo pessoal, M.V. Juliana Pierre


Demodex canis – (Popularmente conhecida como Sarna Negra) Apresenta lesões de variados aspectos: desde pequenas áreas de alopecia ao redor dos olhos, até áreas extensas hemorrágicas ou com piodermite. O processo pode ser dividido em duas apresentações, a saber:  1) escamoso, onde há somente uma ligeira mudança inflamatória com ausência de pelos na área afetada e um sutil espessamento da pele simulando uma fina descamação.A pele pode apresentar-se eritematosa ou hiperpigmentada; 2) pustular, onde a pele se apresenta muito eritematosa, com exsudato hemorrágico ou não, podendo acompanhar material de conteúdo purulento devido à contaminação bacteriana, sobretudo pelo Staphilococcus spA pele pode estar espessada e, frequentemente, com aspecto de escoriada e, desta forma, estar se disseminando por todo o corpo do animal. Em casos severos de baixa resistência, podemos observar parasitas albergando nos linfonodos e outros tecidos.
O parasita tem apresentação vermiforme (figura 1), e o abdômen alongado apresenta estriações transversais. Adultos e ninfas têm 8 patas divididos nos cinco segmentos do abdômen. As larvas têm 6 patas. Seu habitat resume-se na pele e alojam-se em glândulas sebáceas ou em folículos pilosos onde encontramos desde os ovos até as larvas, ninfas e os adultos.

Figura 2: Demodex canis, sob microscopia óptica.
Fonte: Arquivo pessoal, M.V. Juliana Pierre


Diagnóstico: Pela anamnese, e confirmado pelo raspado profundo na pele das regiões afetadas, imersas em óleo ou solução de hidróxido de potássio entre 6 a 10%, se as crostas dificultarem a visualização.

Tratamentos sugeridos: (únicos ou associados)
·         Aplicação injetável de ivermectina (ou usar formulação oral);
·         Uso oral de moxidectina;
·         Isoxazolinas por via oral: como fluralaner, afoxolaner ou sarolaner;
·         Banhos com amitraz.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Parvovirose: Desafios da Imunização de Filhotes

A Parvovirose é uma das causas mais comuns de diarreias infecciosas em cães. O Parvovírus Canino (CPV) possui características que lhe conferem grande resistência ambiental ao passo que permitem uma alta taxa de infectividade1. Isso permite explicar os índices de prevalência que alcançam 100% de morbidade e 91% de mortalidade em filhotes ao redor do mundo2.
O CPV é visto como uma grande ameaça especialmente para os filhotes tanto pela gravidade da doença como pelo fator de exposição1. Enquanto que a dose necessária para infectar um animal não vacinado é, em média, de 1000 partículas virais, um cão doente pode eliminar até 1,25milhão de unidades virais por grama de fezes durante um período de até 2 semanas após a exposição2. Desta forma, a vacinação assume o papel de um dos principais e mais eficazes meios de prevenção e controle da parvovirose ao quebrar o elo entre animais susceptíveis e infectados.

Fonte: http://trupeanimal.com/tag/vacina/

Paradoxalmente, o maior obstáculo para o sucesso da imunização reside no mesmo mecanismo que protege os filhotes nas primeiras semanas de vida: os anticorpos maternos3. Diversos fatores também podem comprometer a resposta à vacinação, como variação genética1,2,3 e o uso de bacterinas de leptospira nas primeiras doses de primovacinação, dentre outros4.

Anticorpos maternos

Os anticorpos maternos compõem a imunidade passiva transmitida pela mãe aos filhotes. A princípio, o tipo de placentação dos cães impede que grandes quantidades sejam passadas ainda na vida in útero, resultando em 2 a 18% dos títulos totais alcançados na vida pós natal5. Assim, a grande fonte de imunidade passiva repousa no fornecimento do colostro nas primeiras 24 horas de vida.
Os títulos de anticorpos maternos diminuem gradativamente durante as semanas subsequentes e, com eles, a proteção contra diversas doenças. A presença desses anticorpos inibe também a síntese de IgG (imunoglobulina – célula de defesa). A janela de vulnerabilidade compreende este período em que os títulos se encontram abaixo de um limiar considerado protetor, mas permanecem acima daquele onde ainda há interferência na resposta imune. Isto é, o animal, apesar de susceptível à doença, é incapaz de montar uma resposta eficaz5.
A maior parte dos indivíduos possuem títulos abaixo do limiar de interferência às 12 semanas de vida. Contudo, até 10% dos animais podem não responder, mesmo após receberem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses, idade na qual usualmente se finaliza a primovacinação2.
Este percentual pode ser ainda maior em áreas endêmicas ou com ampla cobertura vacinal, cuja a população, em especial as fêmeas, apresenta altos títulos de anticorpos que, por sua vez, são passados aos filhotes aumentando a janela de vulnerabilidade.
Por esta razão, os guias de vacinação mais recentes3,6,7 passaram a recomendar que a ultima dose do protocolo de primovacinação seja administrada entre a 14ª e 16ª semana de idade do filhote. Desta forma, garante-se que 98% dos animais vacinados possuam títulos abaixo do limiar de interferência, portanto, aptos a responder3.

Fonte: http://www.portalfilhotes.com.br/reproducao-cio-ciclo-sexual-da-cadela/


Influência genética

Um animal vacinado não pode ser considerado imunizado. Apesar de as vacinas modernas apresentarem altos níveis de eficácia, nem todos os pacientes são capazes de montar uma resposta satisfatória e protetora por fatores genéticos3. Esses indivíduos são denominados são respondedores.
A pressão de seleção exercida pelo homem na espécie canina ao longo do tempo também interfere na frequência de não respondedores. A grande diversidade fenotípica observada também é refletida na função imune à medica que se observa ampla variação do perfil de resposta quando se comparam diversas raças7.
Se por um lado a proporção de não respondedores para o CPV numa população homogênea é estimada em 0,1%, por outro, algumas raças podem ter entre 1 e 5% do total de cães incapazes de responder à vacinação5.
No caso destes animais, a proteção não é conferida pela vacinação individual, mas por uma alta cobertura vacinal. Neste cenário, os cães imunes atuam como uma barreira epidemiológica entre indivíduos infectados e susceptíveis.

Interferência de Antígenos

Outro ponto importante e que pode causar uma falha vacinal é a interação entre antígenos. O uso de bacterinas de Leptospira nas primeiras doses da primovacinação pode resultar em diminuição da resposta imune às frações virais, dentre elas, o CPV4. Por isso, recomenda-se que sua administração seja realizada nas duas ultimas doses do protocolo inicial dos filhotes.
Conclusão
A imunização de filhotes contra a parvovirose canina permanece um assunto de grande importância no universo veterinário. No entanto, o sucesso da vacinação repousa em superar os diversos obstáculos envolvidos.

Referências:
GREENE, C. E.; DECARO, N. Canine Viral Enteritis. In: GREENE, C. E. 9ed) Infectius Diseases of the dog and cat. 4 ed. St Louis: Saunders Elsevier, 2014. P 67-80.
NANDI S.; KUMAR, M. Canine Parvovirus: Current perpective. Indian Journal of Virology, v. 21, n 1, p 31-44, 2010.
WELBORN, L. V.; DEVRIES, J. G.;  FORD, R. et. al. 2011 AAHA Canine vaccination guidelines. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 47, n. 5, p. 1-45, 2011.
GREENE, C. E.; SCHULTZ, R . D. Immunoprofilaxis. In: GREENE, C. E. (ed) Infectious Diseases of the dog and the cat. 3 ed. St. Louis: Saunders Elsevier, 2006. p. 1067-1119.
GREENDE, C.E.; SCHULTZ, R.D. Immunoprofilaxis. In: GREENE, C.C. (ed) Infectious Diseases of the dog and the cat. 4 ed. St. Louis: Saunders Elsevier, 2014. P. 1063-1205.
DAY, M.J.; HORZINEK, M.C.; SCHULTZ, R.D. Guidelines for the vaccination of dogs and cats – compiled by the vaccination guidelines group (VGG) of the world small animal association (WSAVA). Journal of Small Animal Practice, v. 51, June, p.1-32, 2010.
DAY, M.J. Immune system development in the dog and cat. Journal of Comparative Pathology, v. 137, p. S10-S15, 2007.

Fonte: Merial WebVet