Por Juliana Pierre, M.V.
Dr Karel & EquipeVet
A inflamação, associada ou não
com obstrução uretral, do trato urinário dos felinos é comum e caracterizada
por polaciúria (aumento do numero de micções), hematúria, disúria (dificuldade
em urinar) e estrangúria (obstrução e sofrimento para urinar). Em geral, pode
acometer tanto machos quanto fêmeas, sendo a principal causa o acúmulo de
urólitos ou cristais de estruvita. Gatos obesos e domiciliados são mais
predispostos e a incidência aumento no inverno. Entre 30 a 70% dos felinos
apresenta recidiva e a mortalidade relacionada a doença se dá devido a
hipercalemia e uremia derivadas da obstrução uretral. Gatos machos tendem a ser
acometidos mais frequentemente pela obstrução uretral devido ao fator anatômico
de comprimento e diâmetro da uretra.
Figura 1: Gato em posição de disúria (dificuldade em urinar)
Fonte: http://www.canalsertanejo.com.br/animais/seu-gato-esta-com-dificuldade-para-urinar
A DTUIF pode ser classificada
de duas formas em relação a presença ou ausência de cristalúria de estruvita.
Alguns felinos podem apresentar a urolitíase clínica, cristalúria sem
obstrução, ou obstrução uretral com tampão mucoso contendo estruvita.
Entretanto, um outro grupo de animais pode apresentar apenas inflamação do
trato urinário, não relacionada a presença de cristais, sendo sua maioria sem
causa definida. Menos de 5% dos animais possuem infecção bacteriana associada
ao quadro.
Acredita-se que fatores
nutricionais ligados ao alto teor de magnésio no alimento favoreça o
aparecimento de cristais de estruvita na urina de felinos domésticos, sendo
este maior nos alimentos comerciais secos do que nos úmidos. Além disso, o pH
alcalino da urina também é um fator que aumenta a probabilidade de formação e
cálculos de estruvita.
Os sinais clínicos variam de
acordo com a obstrução ou não do felino acometido. Assim, os sintomas de gatos
não obstruídos podem passar despercebidos, principalmente daqueles não
domiciliados. Já nos gatos obstruídos, a apresentação dos sintomas depende a
duração da obstrução. Entre 6 a 24 horas de obstrução, a maioria dos animais
apresenta frequentes tentativas de urinar, vocaliza, esconde-se, lambe sua
genitália e apresenta ansiedade. Quando a obstrução não é aliviada, o quadro
pode evoluir para azotemia pós renal em 36 a 48 horas, apresentando depressão,
fraqueza, anorexia, emese, desidratação, hipotermia, acidose, distúrbios
eletrolíticos (hipercalemia) e bradicardia.
O diagnóstico geralmente se dá
através do histórico em associação aos sinais clínicos do animal em questão,
mas devem ser realizados os seguintes exames para auxílio: urinálise – para
verificar cristalúria e sua caracterização; ultrassonografia abdominal – para exclusão
de causas anatômicas relacionadas à bexiga; hemograma, função renal, função
hepática e análise de eletrólitos – para verificar a gravidade da doença.
O tratamento dos felinos não
obstruídos deve ser voltado para a prevenção do quadro, através da dissolução
dos urólitos – que pode ser feita por meio da alimentação e acidificação
urinária. No entanto, para tratamento daqueles animais com DTUIF idiopática, ou
seja, sem apresentação de cristalúria, diversos protocolos foram descritos, mas
nenhum com comprovação científica de eficácia. Dentre eles, o uso de
glicosaminoglicanos, amitriptilina e fármacos anti-inflamatórios não esteroides
são relatados.
Para felinos obstruídos, deve
ser dada atenção ao fato de já haver azotemia ou não. O plano terapêutico
consiste na tentativa de cateterização uretral, alívio da obstrução e
tratamento da azotemia. Quando a cateterização não se faz possível ou trata-se
de um animal recidivante, é necessário intervir cirurgicamente, por meio de
penectomia e uretrostomia perineal. Entretanto, esse procedimento não diminui o
risco de recidivas e aumenta, por sua vez, a incidência de infecções do trato
urinário.
É importante salientar que a
educação do proprietário consiste no aspecto mais efetivo para diminuir a
incidência da doença, promovendo ao animal alimentação adequada, caixas
sanitárias limpas e com reposição de areia periódica, oferta hídrica suficiente
e ambiente tranquilo e controlado.
Fonte: http://www.showdebicho.com/2014_01_01_archive.html
Fontes:
NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guilhermo. Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Cap. 47. p. 475-481.