quarta-feira, 12 de março de 2014

Hiperplasia Endometrial cística e piometra em cadelas

Por Juliana Cristina de Oliveira Pierre, MV
DrKarel&EquipeVet

O complexo hiperplasia endometrial cística (HEC) – Piometra é uma afecção muito comum na clínica de pequenos animais. Apesar de poder ocorrer em cadelas de quaisquer idades, cadelas idosas, entre 6,5 e 8,5 anos parecem ter maior predisposição ao acometimento, talvez devido à repetida estimulação hormonal uterina. Também as fêmeas nulíparas, ou seja, que nunca pariram, apresentam uma incidência da doença cerca de 6 vezes maior do que primíparas (que pariram uma vez) e multíparas (que pariram diversas vezes). Ainda, o uso de progestágenos (contraceptivos/anticoncepcionais) parece ter grande influência para sua incidência.
A HEC ocorre durante ou após o diestro (fase do ciclo estral da cadela), quando a concentração de progesterona é alta, ou após a administração de progestágenos exógenos. A progesterona, dentre muitas funções, estimula a proliferação das glândulas endometriais e sua ação secretória, ocasionando aumento da quantidade de líquidos intra-uterinos. A essa fase denominamos hidrometra ou mucometra. Quando as bactérias, geralmente de origem vaginal, migram ao útero e iniciam processo de colonização do mesmo, dá-se o nome de piometra.
Clinicamente a piometra é classificada como aberta, quando a cérvix uterina (Figura 1) se encontra relaxada e existe corrimento vaginal que varia de mucopurulento a sanguinolento, ou fechada, quando a cérvix se encontra fechada, portanto, sem presença de corrimento vaginal, e geralmente acompanhada de sinais sistêmicos mais graves.
Figura 1: Esquema simples demonstrando a anatomia reprodutiva de uma fêmea canina.
Fonte: http://amigodepatas.vet.br/doencas/piometra.htm

A cadela pode apresentar inapetência, anorexia, apatia, febre, desidratação e polidipsia (aumento da ingestão de água). Além disso, o útero geralmente é palpável ao exame físico.
Caso a piometra curse sem tratamento pode evoluir para septicemia e/ou endotoxemia, desencadeando alterações renais e hepáticas, podendo levar o animal a um quadro de choque que evolui para o óbito.
Exames laboratoriais como eritrograma, leucograma, ultrassonografia abdominal e radiografia abdominal ajudam no diagnóstico definitivo, associados à história clínica e sintomas do animal.
O tratamento de eleição é cirúrgico, através da ováriossalpingohisterectomia (castração), o mais breve possível. Inicialmente, o animal pode passar por fluidoterapia intravenosa e ser tratado com antibióticos e antiinflamatórios, a fim de ser estabilizado e então encaminhado para a cirurgia.
Existem ainda, alguns tratamentos alternativos para cadelas de alto valor reprodutivo, mas que podem não ser bem sucedidos e geralmente resultam em recidivas, o que consequentemente também não garante a permanência da fertilidade da mesma.
É importante lembrar, que a doença pode acontecer em gatas, em muito menor escala, e a forma de prevenção mais simples, para ambas as espécies canina e felina, é a castração precoce, que previne também outras doenças do trato reprodutivo de fêmeas, como tumores de ovário, útero e mamas.

Referências bibliográficas

JOHNSON, Cheri A.. Distúrbios do Sistema Reprodutivo: Distúrbios da Vagina e do Útero. In: NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guilhermo. Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Cap. 8. p. 833-843.

MARTINS, Danilo Gama. COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA/PIOMETRA EM CADELAS: FISIOPATOGENIA, CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, LABORATORIAIS E ABORDAGEM TERAPÊUTICA. 2007. 54 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal-sp, 2007. Disponível em: <http://www.fcav.unesp.br/download/pgtrabs/cir/m/2998.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2014.