segunda-feira, 20 de julho de 2015

Doença do Trato Urinário Inferior de Felinos (DTUIF)

Por Juliana Pierre, M.V.
Dr Karel & EquipeVet
 

A inflamação, associada ou não com obstrução uretral, do trato urinário dos felinos é comum e caracterizada por polaciúria (aumento do numero de micções), hematúria, disúria (dificuldade em urinar) e estrangúria (obstrução e sofrimento para urinar). Em geral, pode acometer tanto machos quanto fêmeas, sendo a principal causa o acúmulo de urólitos ou cristais de estruvita. Gatos obesos e domiciliados são mais predispostos e a incidência aumento no inverno. Entre 30 a 70% dos felinos apresenta recidiva e a mortalidade relacionada a doença se dá devido a hipercalemia e uremia derivadas da obstrução uretral. Gatos machos tendem a ser acometidos mais frequentemente pela obstrução uretral devido ao fator anatômico de comprimento e diâmetro da uretra.

Figura 1: Gato em posição de disúria (dificuldade em urinar)
Fonte: http://www.canalsertanejo.com.br/animais/seu-gato-esta-com-dificuldade-para-urinar

A DTUIF pode ser classificada de duas formas em relação a presença ou ausência de cristalúria de estruvita. Alguns felinos podem apresentar a urolitíase clínica, cristalúria sem obstrução, ou obstrução uretral com tampão mucoso contendo estruvita. Entretanto, um outro grupo de animais pode apresentar apenas inflamação do trato urinário, não relacionada a presença de cristais, sendo sua maioria sem causa definida. Menos de 5% dos animais possuem infecção bacteriana associada ao quadro.
Acredita-se que fatores nutricionais ligados ao alto teor de magnésio no alimento favoreça o aparecimento de cristais de estruvita na urina de felinos domésticos, sendo este maior nos alimentos comerciais secos do que nos úmidos. Além disso, o pH alcalino da urina também é um fator que aumenta a probabilidade de formação e cálculos de estruvita.  
Os sinais clínicos variam de acordo com a obstrução ou não do felino acometido. Assim, os sintomas de gatos não obstruídos podem passar despercebidos, principalmente daqueles não domiciliados. Já nos gatos obstruídos, a apresentação dos sintomas depende a duração da obstrução. Entre 6 a 24 horas de obstrução, a maioria dos animais apresenta frequentes tentativas de urinar, vocaliza, esconde-se, lambe sua genitália e apresenta ansiedade. Quando a obstrução não é aliviada, o quadro pode evoluir para azotemia pós renal em 36 a 48 horas, apresentando depressão, fraqueza, anorexia, emese, desidratação, hipotermia, acidose, distúrbios eletrolíticos (hipercalemia) e bradicardia.
O diagnóstico geralmente se dá através do histórico em associação aos sinais clínicos do animal em questão, mas devem ser realizados os seguintes exames para auxílio: urinálise – para verificar cristalúria e sua caracterização; ultrassonografia abdominal – para exclusão de causas anatômicas relacionadas à bexiga; hemograma, função renal, função hepática e análise de eletrólitos – para verificar a gravidade da doença.
O tratamento dos felinos não obstruídos deve ser voltado para a prevenção do quadro, através da dissolução dos urólitos – que pode ser feita por meio da alimentação e acidificação urinária. No entanto, para tratamento daqueles animais com DTUIF idiopática, ou seja, sem apresentação de cristalúria, diversos protocolos foram descritos, mas nenhum com comprovação científica de eficácia. Dentre eles, o uso de glicosaminoglicanos, amitriptilina e fármacos anti-inflamatórios não esteroides são relatados.
Para felinos obstruídos, deve ser dada atenção ao fato de já haver azotemia ou não. O plano terapêutico consiste na tentativa de cateterização uretral, alívio da obstrução e tratamento da azotemia. Quando a cateterização não se faz possível ou trata-se de um animal recidivante, é necessário intervir cirurgicamente, por meio de penectomia e uretrostomia perineal. Entretanto, esse procedimento não diminui o risco de recidivas e aumenta, por sua vez, a incidência de infecções do trato urinário.
É importante salientar que a educação do proprietário consiste no aspecto mais efetivo para diminuir a incidência da doença, promovendo ao animal alimentação adequada, caixas sanitárias limpas e com reposição de areia periódica, oferta hídrica suficiente e ambiente tranquilo e controlado.

Fonte: http://www.showdebicho.com/2014_01_01_archive.html

Fontes:

NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guilhermo. Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Cap. 47. p. 475-481.