Por Juliana Cristina de Oliveira Pierre, MV
Dr Karel & EquipeVet
São doenças graves que acometem pequenos e
grandes animais, causadas por bactérias ou protozoários, sendo transmitidas por
ectoparasitas, em especial carrapatos.
Dentre elas, destacam-se a Babesiose e a Erliquiose,
que levam o animal a quadros anêmicos ou de linfopenia/trobocitomenia
(diminuição de linfócitos e plaquetas).
Babesiose:
É causada por um hematozoário do gênero Babesia spp, transmitido por carrapatos
da espécie Rhipcephalus sanguineus (Figura 1) através
da saliva durante o repasto sanguíneo – ou picada. Para que o agente infeccioso
seja transmitido, é necessário que o carrapato permaneça no animal fazendo
repasto por um período médio de 3 dias.
Figura 1: Exemplar de Rhipcephalus sanguineus - Carrapato vermelho do cão.
Fonte: http://www.plagasenred.com.ar/detalle.php?a=garrapata-marron-del-perro-(rhipicephalus-sanguineus)&t=4&d=60
Fonte: http://www.plagasenred.com.ar/detalle.php?a=garrapata-marron-del-perro-(rhipicephalus-sanguineus)&t=4&d=60
O quadro clínico da doença está relacionado à
anemia hemolítica progressiva, sendo que a gravidade dos sintomas varia de
acordo com a intensidade da hemólise (quebra/degradação das células vermelhas
do sangue).
Cães afetados pela doença podem apresentar
anorexia, apatia, diarreia, pneumonia, febre, anemia branda a grave (Figura 2) e icterícia
(que é produto da própria hemólise). O quadro pode cursar para morte ou lenta
recuperação.
Figura 2: Cão apresentando mucosas anêmicas e ligeiramente ictéricas.
Fonte: http://gatticao.blogspot.com.br/2011/12/erlichiose-e-babesiose-voce-conhece.html
O diagnóstico consiste da somatória de sinais
clínicos a exames laboratoriais. Os parasitas podem ser visibilizados no
interior das hemácias em esfregaços sanguíneos, mas isso pode não ocorrer em
animais em fase crônica da doença.
A anemia é o sinal mais importante para a
suspeita de babesiose e pode estar ou não associada a trombocitopenia
(diminuição de plaquetas).
Alguns testes sorológicos tem valor
diagnóstico, como ELISA e reação de imunofluorescência indireta, mas a
probabilidade de falsos positivos ou reação cruzada com outros antígenos é
grande. Finalmente, uma técnica útil e confiável é a Reação em Cadeia da
Polimerase (PCR) que detecta porções genéticas do parasita em praticamente
quaisquer tecidos.
O tratamento consiste no controle do
parasita, moderação da resposta imune e tratamento sintomático. O antibiótico
de escolha é o diproprionato de imicarb na dose de 5 a 7mg/kg, por via
intramuscular ou subcutânea em duas aplicações com intervalo de 14 dias. A
modulação imunológica deve ser realizada com uso de prednisona na dose
imunossupressora de 1mg/kg até o restabelecimento dos parâmetros sanguíneos.
Erliquiose:
É uma enfermidade que pode acometer caninos
domésticos e silvestres causando imunossupressão. Seu agente é o hemoparasita
do gênero Ehrlichia sp, que faz parte
do grupo das Ricketsias. São parasitas intracelulares obrigatórios que infectam
leucócitos e/ou trombócitos (plaquetas), causando trombocitopenia no animal
acometido.
Transmitida principalmente pelo Rhipcephalus sanguineus, que se infecta
ao fazer repasto de animal infectado e inocula o parasita em outro hospedeiro
quando da alimentação.
Após a infecção, acredita-se que o período de
incubação no organismo seja em torno de 20 dias, mas isso é variável de acordo
com a carga parasitária inoculada. No organismo, os parasitas infectam as
células de defesa – principalmente monócitos – e as plaquetas, levando a quadro
de imunossupressão e trombocitopenia (diminuição de plaquetas).
Os principais sintomas, assim como a
babesiose, são a anorexia, depressão, febre alta, letargia e perda de peso. Em
casos mais graves, pode ocorrer aparecimento de petéquias sobre a pele (Figura 3), sintomas
neurológicos, insuficiência renal e hepática.
Figura 3: Petéquias (áreas hemorrágicas em tecido subcutâneo) em cão.
Fonte: http://gatticao.blogspot.com.br/2011/12/erlichiose-e-babesiose-voce-conhece.html
Em alguns casos, o animal passa por uma fase
aguda e o organismo monta resposta imune para debelar a infecção, mas não para
extingui-la completamente, podendo passar por fase subclínica da doença por
longos períodos – até 120 dias ou mais.
O diagnóstico é baseado nos sintomas e exames
laboratoriais, que geralmente se apresentam com trombocitopenia, anemia,
eosinopenia e linfopenia. Assim como na babesiose, os testes sorológicos são
úteis, mas não muito específicos, sendo então o PCR o exame confirmatório de
escolha.
Ainda, quando da suspeita de aplasia de
medula, uma das principais sequelas da doença, deve-se realizar punção da
medula para mielograma.
O tratamento de eleição é o uso de
tetraciclinas, que compreendem o grupo de drogas com melhor ação sobre as
ricketsias, dentre elas a doxiciclina demonstra ser o fármaco de melhor
eficácia. A dose recomendada em literatura é a de 5mg/kg duas vezes ao dia, por
um período de 14 dias, no entanto, atualmente com esse tratamento tem-se visto
recidivas e resistência por parte do agente.
As quinolonas, em especial enrofloxacina,
parecem ter algum efeito bacteriostático, mas não elimina a infecção.
Muito importante é lembrar do tratamento de
suporte, para que sejam restabelecidos os parâmetros normais do animal, como
temperatura, apetite e disposição.
O prognóstico de ambas as doenças é bom,
quando instaurado tratamento adequado por período suficiente.
A prevenção se baseia no combate ao vetor das
doenças, com uso de substâncias carrapaticidas de longa duração nos cães e no
ambiente em que vivem. Dessa forma, impede-se a transmissão da doença e por
consequência sua incidência.
Fonte:
FIGUEIREDO, Monica Ramos. Babesiose e erliquiose caninas. 2011. 39 f. Monografia (Especialização) - Curso de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica Médica, Qualittas, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://qualittas.com.br/uploads/documentos/Babesiose e Erliquiose - Monica Ramos Figueiredo.pdf>. Acesso em: 17 out. 2014.