sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Hemoparasitoses em cães (“Doenças do carrapato”)

Por Juliana Cristina de Oliveira Pierre, MV
Dr Karel & EquipeVet

São doenças graves que acometem pequenos e grandes animais, causadas por bactérias ou protozoários, sendo transmitidas por ectoparasitas, em especial carrapatos.
Dentre elas, destacam-se a Babesiose e a Erliquiose, que levam o animal a quadros anêmicos ou de linfopenia/trobocitomenia (diminuição de linfócitos e plaquetas).

Babesiose:

É causada por um hematozoário do gênero Babesia spp, transmitido por carrapatos da espécie Rhipcephalus sanguineus (Figura 1) através da saliva durante o repasto sanguíneo – ou picada. Para que o agente infeccioso seja transmitido, é necessário que o carrapato permaneça no animal fazendo repasto por um período médio de 3 dias.

Figura 1: Exemplar de Rhipcephalus sanguineus - Carrapato vermelho do cão.
Fonte: http://www.plagasenred.com.ar/detalle.php?a=garrapata-marron-del-perro-(rhipicephalus-sanguineus)&t=4&d=60

O quadro clínico da doença está relacionado à anemia hemolítica progressiva, sendo que a gravidade dos sintomas varia de acordo com a intensidade da hemólise (quebra/degradação das células vermelhas do sangue).
Cães afetados pela doença podem apresentar anorexia, apatia, diarreia, pneumonia, febre, anemia branda a grave (Figura 2) e icterícia (que é produto da própria hemólise). O quadro pode cursar para morte ou lenta recuperação.

Figura 2: Cão apresentando mucosas anêmicas e ligeiramente ictéricas.
Fonte: http://gatticao.blogspot.com.br/2011/12/erlichiose-e-babesiose-voce-conhece.html



O diagnóstico consiste da somatória de sinais clínicos a exames laboratoriais. Os parasitas podem ser visibilizados no interior das hemácias em esfregaços sanguíneos, mas isso pode não ocorrer em animais em fase crônica da doença.
A anemia é o sinal mais importante para a suspeita de babesiose e pode estar ou não associada a trombocitopenia (diminuição de plaquetas).
Alguns testes sorológicos tem valor diagnóstico, como ELISA e reação de imunofluorescência indireta, mas a probabilidade de falsos positivos ou reação cruzada com outros antígenos é grande. Finalmente, uma técnica útil e confiável é a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) que detecta porções genéticas do parasita em praticamente quaisquer tecidos.
O tratamento consiste no controle do parasita, moderação da resposta imune e tratamento sintomático. O antibiótico de escolha é o diproprionato de imicarb na dose de 5 a 7mg/kg, por via intramuscular ou subcutânea em duas aplicações com intervalo de 14 dias. A modulação imunológica deve ser realizada com uso de prednisona na dose imunossupressora de 1mg/kg até o restabelecimento dos parâmetros sanguíneos.

Erliquiose:

É uma enfermidade que pode acometer caninos domésticos e silvestres causando imunossupressão. Seu agente é o hemoparasita do gênero Ehrlichia sp, que faz parte do grupo das Ricketsias. São parasitas intracelulares obrigatórios que infectam leucócitos e/ou trombócitos (plaquetas), causando trombocitopenia no animal acometido.
Transmitida principalmente pelo Rhipcephalus sanguineus, que se infecta ao fazer repasto de animal infectado e inocula o parasita em outro hospedeiro quando da alimentação.
Após a infecção, acredita-se que o período de incubação no organismo seja em torno de 20 dias, mas isso é variável de acordo com a carga parasitária inoculada. No organismo, os parasitas infectam as células de defesa – principalmente monócitos – e as plaquetas, levando a quadro de imunossupressão e trombocitopenia (diminuição de plaquetas).
Os principais sintomas, assim como a babesiose, são a anorexia, depressão, febre alta, letargia e perda de peso. Em casos mais graves, pode ocorrer aparecimento de petéquias sobre a pele (Figura 3), sintomas neurológicos, insuficiência renal e hepática.

Figura 3: Petéquias (áreas hemorrágicas em tecido subcutâneo) em cão. 
Fonte: http://gatticao.blogspot.com.br/2011/12/erlichiose-e-babesiose-voce-conhece.html

Em alguns casos, o animal passa por uma fase aguda e o organismo monta resposta imune para debelar a infecção, mas não para extingui-la completamente, podendo passar por fase subclínica da doença por longos períodos – até 120 dias ou mais.
O diagnóstico é baseado nos sintomas e exames laboratoriais, que geralmente se apresentam com trombocitopenia, anemia, eosinopenia e linfopenia. Assim como na babesiose, os testes sorológicos são úteis, mas não muito específicos, sendo então o PCR o exame confirmatório de escolha.
Ainda, quando da suspeita de aplasia de medula, uma das principais sequelas da doença, deve-se realizar punção da medula para mielograma.
O tratamento de eleição é o uso de tetraciclinas, que compreendem o grupo de drogas com melhor ação sobre as ricketsias, dentre elas a doxiciclina demonstra ser o fármaco de melhor eficácia. A dose recomendada em literatura é a de 5mg/kg duas vezes ao dia, por um período de 14 dias, no entanto, atualmente com esse tratamento tem-se visto recidivas e resistência por parte do agente.
As quinolonas, em especial enrofloxacina, parecem ter algum efeito bacteriostático, mas não elimina a infecção.
Muito importante é lembrar do tratamento de suporte, para que sejam restabelecidos os parâmetros normais do animal, como temperatura, apetite e disposição.
O prognóstico de ambas as doenças é bom, quando instaurado tratamento adequado por período suficiente.
A prevenção se baseia no combate ao vetor das doenças, com uso de substâncias carrapaticidas de longa duração nos cães e no ambiente em que vivem. Dessa forma, impede-se a transmissão da doença e por consequência sua incidência.



Fonte: 

FIGUEIREDO, Monica Ramos. Babesiose e erliquiose caninas. 2011. 39 f. Monografia (Especialização) - Curso de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica Médica, Qualittas, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://qualittas.com.br/uploads/documentos/Babesiose e Erliquiose - Monica Ramos Figueiredo.pdf>. Acesso em: 17 out. 2014.